"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos

quarta-feira, novembro 16, 2011

Crise Conjugal... Fim ou Recomeço de uma relação?



A discussão termina todos os dias em gritos e insultos. Um quer sair à noite e o outro não; um chega tarde e o outro zanga-se; há um que gasta demais e outro de menos; ambos querem ir de férias e cada qual escolhe um destino. Tudo serve para subir o tom, para um deles sair do quarto, levar a almofada e dormir no sofá.

As zangas, os medos, os ressentimentos, o silêncio entram no meu consultório e ficam várias semanas a ser dissecados até indicarem uma de duas portas
: - o fim ou o recomeço.

O trabalho vai-se desenvolvendo em torno de reflexões para que os casais consigam perceber quais as razões que desgastam a relação. Os indícios são visíveis a olho nu e muitas vezes estavam lá desde o princípio. Só que a maioria prefere fechar os olhos e mergulhar de cabeça numa paixão. Até ao momento em deixa de ser possível ignorar os problemas que minam um relacionamento: Expectativas defraudadas ou dificuldade em aceitar o outro são algumas das grandes dificuldades identificadas entre os casais.

E deixar de falar é o maior dos erros. Fingir que está tudo bem. Esperar que os problemas desapareçam sem fazer nada para isso é o mesmo que acreditar em milagres. A estratégia tem quase sempre um único resultado: "O casal afasta-se cada vez mais até ao dia em que olham um para o outro e descobrem que já não se reconhecem." 

Ficam sozinhos, sem vontade de conversar e sentem-se perdidos: "É o momento de se sentarem frente-a-frente e forçar o diálogo." Se a estratégia falhar é sempre possível recorrer à terapia de casal.

Embora a procura da terapia de casal tenha vindo a crescer, ainda há muita resistência em pedir ajuda profissional, não só por falta de divulgação, mas também porque os casais receiam uma invasão da sua  intimidade.

É importante salientar que nem sempre , entrar num consultório e pedir ajuda de um terapeuta, serão suficientes para salvar o casamento. Haverá sempre histórias que terminam em divórcio.

A separação é uma decisão solitária que nunca surge de ânimo leve. É preciso perceber quando vale a pena insistir e quando chegou o momento de desistir.

Muitas vezes não há como restaurar o amor, a confiança e o respeito" – que são a meu ver, os três pilares obrigatórios para manter uma vida em conjunto. No dia em que isso deixar de acontecer, significa que um ou ambos anularam a identidade e deixaram de existir.

O divórcio, é uma "guerra de silêncios". É não fazer as refeições em conjunto, dormir em quartos separados, evitar a intimidade ou não ter vontade de regressar a casa.

É preciso saber terminar uma relação com dignidade, o que acontece poucas vezes." Boa parte dos casais deixa a relação arrastar-se e espera por motivos fortes para tomar uma decisão. Usam a infidelidade, a agressão verbal ou física para justificarem o divórcio, quando os motivos começaram muito antes.

Mesmo que o divórcio seja o caminho, é preciso continuar a falar: "Perceber o que aconteceu, assumir responsabilidades sem atribuir culpas é um processo obrigatório para qualquer casal que opta pela separação". Decifrar todos os passos que conduziram ao fim do casamento é a única saída para não cometer os mesmos erros em futuras relações. "Caso contrário, corre-se o risco de saltar de pessoa em pessoa sem qualquer perspectiva."

O fim é o início de um outro capítulo em que é preciso aprender que o "amor não basta por si só para suportar um casamento." Exige esforço diário, mesmo quando há filhos para cuidar, empregos para assegurar ou resto do quotidiano a consumir tempo e energia. "Pode parecer tarefa quase impossível, mas todos nós nos lembramos da ginástica que fazíamos no começo de uma relação para conseguirmos ficar juntos, nem que fosse por pouco tempo.

Estabelecer prioridades é o principal trunfo para vencer a rotina. E saber que o amor não é eterno é o passaporte para uma relação duradoura.
A última atitude que devemos ter é encarar o outro como uma casa ou um carro que irá continuar a existir enquanto essa for a nossa vontade.

Sempre que a rotina se transformar numa máquina sem travões será necessário inventar pelo menos dez minutos por dia para o casal se encontrar a sós. Namorar, brincar ou conversar são hábitos diários a manter a todo o custo. Um dia por mês deverá ser dedicado a uma curta viagem para partilharem "necessidades e preocupações.
São gestos que funcionam como pilhas de longa duração para um casamento, desde que ninguém se esqueça que qualquer relação fracassa quando "ambos ou apenas um" abdica do seu próprio espaço e afasta o ciclo de amizades, mesmo quando o amor é absorvente e tem dificuldade em dividir o tempo com os outros:

 O casamento não é como subir uma montanha e ficar sentado no topo. São várias montanhas que têm de ser escaladas todos os dias.


Por Maria de Jesus Candeias

domingo, novembro 06, 2011

Hiperactivos ou com sono?


Em Portugal dorme-se pouco e mal. Por trabalhar directamente com crianças e adolescentes, tenho verificado que surgem cada vez mais casos de crianças que apresentam perturbações do sono. Teresa Paiva (Neurologista) e Helena Rebelo Pinto (Psicóloga) realizaram recentemente um estudo em que concluíram, através de inquéritos, que a maioria das crianças e adolescentes portugueses dormem apenas metade do que necessitam. Ora isto traduz-se numa sonolência diurna que afecta o rendimento escolar e as relações sociais. Por outro lado, diversos estudos indicaram que a más rotinas de sono está associada uma maior probabilidade de diabetes, hipertensão arterial, depressão, insónia e, tal como já foi mencionado anteriormente, insucesso escolar. O facto de dormir menos horas do que se necessita afecta a forma como realizamos a aquisição dos conhecimentos, principalmente os de cariz abstracto; assim poderemos pensar que poderá existir uma relação entre más rotinas de sono e os resultados negativos nos exames nacionais de Matemática .

Quando questionados, alguns jovens referem que dormem o número de horas considerado necessário pois levantam-se perto da hora do almoço ou a meio da tarde. No entanto, é essencial que tenham presente que esse sono não tem a mesma qualidade pois existem hormonas que apenas são segregadas quando estamos a dormir durante a noite, estando isto relacionado com a evolução humana. Infelizmente os conhecimentos teóricos não são suficientes para mudar hábitos, principalmente os de cariz social pois muitos adolescentes têm actividades sociais nocturnas que recusam abandonar com risco de exclusão do círculo social que conhecem. Os horários das discotecas, as mensagens de telemóvel nocturnas gratuitas e a divulgação de informações nas redes sociais como o Facebook promovem este tipo de práticas nocturnas. Por outro lado, os horários laborais dos pais, que levaram a que se jante em Portugal cada vez mais tarde, levaram ao prolongamento do serão. O que poderá ser feito?

Adaptação à nova realidade familiar. Cada familiar deverá procurar encontrar os seus próprios horários, de forma a conciliar as necessidades individuais com as da família, com isto pretendo dizer que considero essencial que sejam respeitados os desejos e as necessidades de cada criança/jovem/adultos e simultaneamente exista uma procura de existirem actividades em família. Procurar concretizar isto na vida do dia-a-dia não é uma tarefa fácil pois as solicitações são diversas mas penso que é importante estabelecer prioridades.
Todos conhecemos crianças que, quando estão com sono, mexem-se mais do que o habitual, choram e fazem as “chamadas de atenção”. Assim, não é de surpreender que o professor, ao ser confrontado com a criança que diariamente vai com sono para a escola e adopte estes comportamentos, considere que estes comportamentos são “habituais”, logo que “fazer parte” da personalidade da criança – assim compreende-se o elevado número de sinalizações, por parte da comunidade docente de “crianças hiperactivas”. Não pretendo com isto afirmar que o número de crianças hiperactivas é exagerado, antes que é necessária uma avaliação correcta. Gostaria ainda de salientar que o número de crianças diagnosticadas com hiperactividade tem aumentado nos últimos anos, existindo muitos factores apontados para isso.
Num artigo divulgado no jornal Público (14/08/2011), Teresa Paiva e Helena Rebelo Pinto referem que os principais objectivos do seu projecto passam por “Divulgar os conhecimentos básicos sobre o sono e a sua relação com a saúde, sensibilizar as crianças e os jovens para a importância de dormir bem e adquirir bons hábitos de sono e preparar os agentes educativos para uma intervenção eficaz na melhoria do sono das crianças e dos adolescentes”.  
Julgo que este estudo poderá ser uma mais-valia para a sociedade em geral e para os técnicos de saúde mental em particular pois uma mente cansada dificilmente consegue pensar.